sábado, 13 de dezembro de 2014

Coqueluche

DR.ROBERTO COOPER
Médico Pediatra

Por que falar sobre uma doença para a qual a maioria das crianças recebe uma vacina? Ainda existe coqueluche? Que pediatra mais desatualizado! Imagine só, escrever um post sobre coqueluche! Talvez essas sejam reações iniciais de alguns leitores. O que nem todo mundo sabe é que a incidência de coqueluche está aumentando em muitos lugares do mundo, inclusive no Brasil. Por esse motivo resolvi comentar alguns aspectos desta doença contagiosa.

A Coqueluche (ou Pertussis) é uma doença infecto-contagiosa, produzida pela bactéria Bordetella Pertussis. Esta, se dissemina pelas gotículas que uma pessoa com coqueluche espalha ao espirrar ou tossir. Por esse motivo, uma pessoa com coqueluche deve permanecer fora do convívio com outras pessoas e, se possível, usar uma máscara para evitar o contágio daquelas pessoas que, obrigatoriamente entrarão em contato com ela. O período de incubação (tempo entre o contato com a doença e o aparecimento de sintomas) é de 7 a 14 dias.

A Coqueluche, na sua fase inicial que é chamada de fase catarral, se parece com qualquer infecção respiratória simples. A criança tem febre, coriza, tosse, uma certa inapetência, em tudo parecendo um resfriado comum. Essa fase dura entre uma e duas semanas. Aos poucos a tosse vai se intensificando, assumindo a caracterísitca que sugere a Coqueluche: uma tosse espasmódica, com acessos de 5 a 10 tossidas, seguidas de um ruído inspiratório forte, às vezes chamado de guincho. Como a tosse vem em salvas repetidas, também é chamada de tosse longa. Não raro, a criança tem ânsia de vômito ou vomita após o acesso de tosse. Nos intervalos dos acessos, a criança parece estar bem. Essa fase, chamada de paroxística, leva entre 2 a 4 semanas para ceder.

A Coqueluche, em geral, é uma doença sem maior gravidade ou complicações. No entanto, em bebês menores de 6 meses, ainda não totalmente protegidos pela vacinação, pode apresentar complicações como pneumonia, encefalopatia (doença no sistema nervoso central- cérebro), convulsões e, em raros casos, morte.

A prevenção da Coqueluche se faz através da vacinação. A vacina contra a Coqueluche é dada em conjunto com as vacinas contra o Tétano e a Difteria. É a vacina DPT (Difteria, Tétano e Pertussis).  A vacinação básica consiste em 3 doses administradas nos 6 primeiros meses de vida (2, 4 e 6 meses). Seguida de um reforço aos 15 meses de vida e outro entre os 4 e 6 anos.  A recomendação da Academia Americana de Pediatria e do CDC de Atlanta é que o reforço da vacina anti-tetânica e anti-diftérica (DT adulto), feita aos 14 anos, seja feita utilizando-se a vacina que contém o componente Coqueluche. Esta vacina, no entanto, só está disponível nas clínicas privadas de vacinação. É a vacina tríplice acelular, adulto (Tdpa). É importante ressaltar que a vacina contra a Coqueluche oferece uma proteção entre 80 e 85% e as crianças que contraem a Coqueluche, mesmo vacinadas, tendem a ter uma forma mais branda da doença. Como a proteção não é duradoura, há necessidade de se fazer reforços a cada 10 anos, junto com os reforços de anti-tetânica que todo adulto deveria tomar. Uma mulher grávida deveria tomar a vacina após a 20º semana da gravidez ou no pós parto imediato. A recomendação é de que todos os adultos que terão contato próximo com o bebê recebam uma dose da vacina tríplice aceluar, adulto. Esta é a forma de reduzir o risco do bebê contrair a doença, numa fase onde ainda não recebeu todas as vacinas. Esta estratégia de vacinar os adultos em torno do bebê (pais, avós e babé) se chama “casulo” porque é como se o bebê ficasse rodeado (como em um casulo) por pessoas protegidas contra a doença e, desta forma, protegendo-o.

Finalmente, se o pediatra suspeitar de Coqueluche, seja pela história de contágio, seja pelo quadro clínico, poderá administrar determinado tipo de antibiótico que, se dado na fase inicial (mais difícil de ser dado porque os sintomas ainda são inespecíficos e não justificariam o uso de antibióticos), pode reduzir a duração da doença. Se dado na fase paroxística, apesar de não reduzir a doença, diminui a sua contagiosidade, protegendo as pessoas em torno do paciente. Remédios para tosse, xaropes caseiros, não funcionam nos casos de Coqueluche e não há nenhuma indicação para seu uso.

Existem outras doenças cuja tosse pode ser parecida com a Coqueluche, fazendo com que o diagnóstico nem sempre seja evidente ou fácil. O melhor a se fazer em caso de febre, coriza e tosse, é procurar o seu pediatra para que ele possa decidir qual a melhor abordagem para cada caso.

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