sábado, 31 de dezembro de 2011

Hepatite C

Dr. Pedro Pinheiro
DR. PEDRO PINHEIRO
Especialista em Medicina Interna
Médico Nefrologista


A hepatite C é uma infecção causada por um vírus que ataca o fígado, levando à inflamação e progressiva destruição do mesmo. Entenda a hepatite C, a hepatite crônica mais comum no mundo.


A hepatite C apresenta 2 características importantes. A primeira é o fato de tratar-se de uma infecção assintomática até fases avançadas da doença. A destruição do fígado ocorre lentamente, e às vezes, os sintomas só surgem 20 anos depois da contaminação. A maioria dos pacientes infectados pelo vírus C, não suspeita de tal fato.


O segundo dado que merece menção é o fato de que até o final da década de 1980 não se havia identificado esse tipo de vírus. Como não se sabia da existência do vírus C, as bolsas de sangue para transfusão não eram testadas para tal. As pessoas recebiam transfusões sanguíneas, eram infectadas e nem elas, nem os médicos, tinham conhecimento disto. O resultado é que hoje encontramos milhares de pacientes portadores de hepatite C em fase avançada e sintomática, que foram contaminados há 2 ou 3 décadas. Estima-se que até 10% das bolsas de sangue durante a década de 1980 estavam contaminadas com hepatite C.


Durante muito tempo a hepatite C era chamada de hepatite não-A não-B. Sabia-se que existia um tipo de hepatite diferente das conhecidas hepatite A e hepatite B, porém, a causa era desconhecida.


Transmissão da hepatite C


O principal meio de transmissão da hepatite C é através da exposição à sangue contaminado.


No início da década de 1990 os doadores de sangue passaram a ser testados para hepatite C. Desde então a transfusão sanguínea deixou de ser a principal via de transmissão, apresentando uma taxa de contaminação próxima de zero nos dias de hoje (1 caso para cada 1.9 milhões de transfusões). A quase totalidade dos casos de transmissão por transfusão ainda vistos hoje são originados das décadas passadas.


Nos dias atuais a principal via de contaminação é pelo uso de drogas injetáveis com compartilhamento de agulhas entre os usuários.


A hepatite C também pode ser transmitida pela via sexual, apesar do risco ser bem mais baixo do que com a hepatite B ou o HIV.


Se pela via sexual o HIV é mais contagioso, pelo contato sanguíneo o vírus C é mais perigoso. Orienta-se inclusive a não se partilhar escova de dentes ou aparelhos de barbear pelo risco de transmissão com pequenos volumes de sangue.


Outras vias de transmissão menos comuns são através do transplante de órgãos de doadores infectados, hemodiálise acidentes em ambientes hospitalares, tatuagem, body piercing e transmissão perinatal.


Sintomas da hepatite C aguda


Como já foi dito, a hepatite C costuma ser uma infecção assintomática por muitos anos. Porém, até 20% dos pacientes apresentam um quadro de hepatite aguda que ocorre de 1 a 3 meses após a contaminação.


Os sintomas da hepatite C aguda incluem mal-estar, náuseas e vômitos, icterícia (pele amarelada), comichão pelo corpo, cansaço, e dor abdominal na região do fígado (abaixo das costelas à direita). Nas análises de sangue pode-se detectar aumento das enzimas hepáticas (TGO e TGP, também chamadas de ALT e AST). Os sintomas podem durar de 2 a 12 semanas.


É importante lembrar que 70% dos pacientes não apresentam nenhum sintoma após a contaminação.


Sintomas da hepatite C crônica


O grande risco da hepatite C é quando esta se torna uma infecção crônica. Depois da contaminação, sintomática ou não, apenas 20% dos pacientes conseguem se livrar espontaneamente do vírus C. Os outros 80% permanecem infectados pelo resto da vida. São estes que sofrerão as complicações da hepatite C.


Considera-se infecção crônica se o vírus ainda estiver presente no organismo após 6 meses de contaminação. Se até esse momento o sistema imune não deu cabo do vírus, a chance de cura espontânea posterior é baixíssima.


Os sintomas da hepatite C crônica começam a aparecer em média após 20 a 30 anos de contaminação, quando de 30 a 50% dos pacientes desenvolverão sinais de cirrose hepática. Dentre os que desenvolvem cirrose, alguns ainda irão complicar com câncer do fígado.


Os sintomas da hepatite C, portanto, são causados pelo desenvolvimento de cirrose e consequente falência hepática.


O restantes 50 a 70% que não evoluem para cirrose mantém-se com hepatite C crônica assintomática por mais de 30 anos. O porquê dessa evolução distinta, não se sabe.


Alguns fatores parecem favorecer a evolução para cirrose, entre eles:


- Alcoolismo
- Contaminação após os 40 anos de idade
- Co-infecção pelo HIV
- Co-infecção pela hepatite B
- Presença de esteatose hepática
- Obesidade
- Fumar maconha


Diagnóstico da hepatite C


Todo paciente com elevação das enzimas hepáticas sem explicação aparente, usuários de drogas endovenosas, pessoas com antecedentes de transfusão de sangue antes da década de 1990, profissionais de saúde e parceiros (as) de pacientes contaminados com o vírus C devem fazer exames para pesquisar a presença de hepatite C.


O diagnóstico da hepatite C é feito da seguinte maneira.


Inicia-se com a pesquisa de anticorpos com a sorologia pelo método ELISA. Se o teste for negativo, descarta-se a doença. Se for positivo, uma segunda sorologia chamada de RIBA-2 ou RIBA-3 é feita para se confirmar o diagnóstico.


Se o RIBA for negativo, isso significa que o ELISA foi um falso positivo e descarta-se a doença. Se o RIBA também vier positivo, deve-se, então, fazer a pesquisa direta pelo vírus através do HCV RNA. Este último método é não só capaz de identificar o vírus C, como também de fornecer a carga viral no sangue.


Um HCV RNA positivo confirma o diagnóstico de hepatite C, enquanto que um HCV RNA negativo (com ELISA e RIBA positivos) indica aqueles poucos casos onde há cura espontânea da infecção.


Uma vez diagnosticado o vírus C, é importante saber qual o genótipo é o responsável pela infecção. Esta informação é importante devido ao fato do tratamento poder ser alterado dependendo do tipo de vírus C presente.


Tratamento da hepatite C


Ao contrário do que ocorre na hepatite B, não existe vacina para hepatite C.


O tratamento da hepatite tem como objetivo evitar a progressão da infecção para cirrose e falência hepática. Como a maioria dos pacientes não evoluiu para este estado, não há necessidade de se tratar todos os pacientes portadores do vírus C.


O tratamento é feito com 2 drogas:
- Ribavirina + Interferon peguilado


Hepatite C pelo genótipo 1 ou 4 do vírus C é tratado por 48 semanas, enquanto que os genótipos 2 e 3 são tratados por apenas 24 semanas.


O tratamento está indicado principalmente nos pacientes não idosos, com alterações das enzimas hepáticas na análises de sangue e biópsia hepática demonstrando inflamação e sinais de fibrose, sugerindo risco de progressão para cirrose.


Todos os casos devem ser avaliados individualmente e cabe ao médico hepatologista a decisão de iniciar tratamento ou não.


O objetivo do tratamento é eliminar o vírus da circulação. É considerada cura da hepatite C quando o vírus continua indetectável no sangue por mais de 6 meses após suspensão dos medicamentos.


A chance de cura da hepatite C é de 50% para o genótipo 1 e de 80% para os genótipos 2 e 3.


Apesar da taxa de cura ser alta, o tratamento não é indicado a todos os pacientes devido ao alto índice de efeitos colaterais, alguns deles graves. Por isso, naqueles que não apresentam sinais de evolução para cirrose, o benefício não supera os riscos.


O tratamento duplo é contra-indicado em:


- Gestantes
- Diabetes mal controlado
- Pacientes com antecedentes de depressão
- Presença de doença auto-imune associada
- Insuficiência renal crônica avançada
- Transplantados
- Pacientes com comorbidades graves como doenças cardíacas e pulmonares


Nestes casos o tratamento deve ser individualizado e a utilização de apenas 1 droga pode ser tentada. Porém, a taxa de sucesso com a monoterapia é muito menor.


O único tratamento cientificamente comprovado para hepatite, é o descrito acima. Tenham cuidado com os chamados tratamentos naturais, pois além de não funcionarem, podem piorar o quadro, já que muitas dessas ervas são hepatotóxicas.


Não existe dieta específica para hepatite C, a não ser evitar o consumo de bebidas alcoólicas.


Exercícios físicos não ajudam nem atrapalham no tratamento do vírus.

Postagens relacionadas

Hepatite C
4/ 5
Oleh

Assine via e-mail

Por favor inscreva-se para receber as ultimas postagens no e-mail.